quarta-feira, 31 de julho de 2019

COLAPSO DE TRAQUEIA - ORIGEM


ORIGEM DA DOENÇA

A origem do colapso de traqueia ainda é desconhecida, mas acredita-se que algum gene seja responsável pelo seu desenvolvimento, provavelmente de penetrância incompleta, pois a doença se manifesta em idades variadas. Existem casos de cães que começaram a desenvolver a doença muito jovens, cães que foram diagnosticados ainda jovens e só foram desenvolver sinais clínicos na fase adulta ou idosa. Portanto, não se sabe se esses cães que mostram sinais clínicos da doença na fase adulta /idosa, nasceram com a doença e foram desenvolver os sinais clínicos tardiamente, ou se tiveram a doença por deterioração cartilaginosa inerente à senilidade.

A fisiopatogenia da doença é a perda de condroitina, glucosamina, aminoácidos e matriz proteica, deixando a cartilagem flácida. Sobre a traqueia, tem o músculo dorsal, com a perda da sustentação dos anéis cartilaginosos, o músculo se projeta rumo ao assoalho da traqueia, fazendo então o colapso, como ilustra a figura abaixo. Erroneamente, radiografias com compressão da região cervical são feitas e tendo o colabamento, o diagnóstico do colapso é feito. Falaremos disso no post sobre diagnóstico.





 A degeneração do tecido cartilaginoso leva a inflamação que causa tosse (estímulo dos receptores da tosse). A passagem do ar por um ducto estreito (traqueia colabada) em alta velocidade, provoca irritação também, portanto, tem-se um círculo vicioso: irritação causa tosse – tosse causa irritação. Por isso que, comumente em estágios inicias, cães tem boa resposta ao uso de anti-inflamatórios (esteroidais ou não).

 A degeneração é progressiva e crônica, portanto, ela continuará, a despeito do uso de anti-inflamatórios ou suplementos a base de matriz proteica (falaremos disso no post sobre tratamento). A degeneração pode ser localizada (geralmente começa na região cervico-torácica) ou generalizada, acometendo a traqueia em vários segmentos incluindo os grandes brônquios.  O animal pode ter variados graus de colapso ao longo da traqueia.

É uma doença que acomete principalmente cães de raças pequenas e toys, com predileção por raças como Yorkshire, Spitz, Maltês e Poodle. É raro a ocorrência em cães de raças grandes. Em Labrador e Golden Retrievers já foi relatada a ocorrência, mas vale lembrar que nesses cães ocorre eversão de sacos laringeanos que imita com perfeição os sinais clínicos de colapso.
No próximo post falaremos dos sinais clínicos.



domingo, 28 de julho de 2019

COLAPSO DE TRAQUEIA EM CÃES

    O colapso de traqueia em cães é uma doença muito grave e muito subestimada tanto pelos Médicos Veterinários quanto pelos proprietários dos animais.
Pouco se sabe sobre a patogenia e patologia do colapso de traqueia em cães, pois estudos mais complexos estão começando a ser feitos visto a grande incidência de casos.

    Quando menciono que o colapso de traqueia é  uma"doença subestimada pelos Médicos Veterinários" me refiro à falta de conhecimento dos sinais clínicos assim como novas opções de tratamento. Ouço muitas vezes quando estou atendendo um cão com colapso de traqueia, que o animal foi diagnosticado anos atrás, mas o Médico Veterinário disse que não tinha o que fazer. Quando na verdade já tinha sim, e se tivesse sido feito, o animal não estaria na condição em que chegou.  Por isso afirmo da falta de conhecimento, estudo e atualização sobre colapso de traqueia em cães.

    Por trabalhar com Cardiologia Veterinária profissionalmente há mais de 10 anos (não inclui a pós-graduação, senão seriam 12 anos), o principal sinal clínico/sintoma de doença cardíaca e cães é a tosse seca. Mas quando essa tosse não é de origem cardíaca ? Minha função era devolver o caso ao Clínico Geral. Porém, eu fui Clínico Geral antes de ser Cardiologista e me interesso não só em saber mais sobre qualquer assunto e também em poder ajudar meu paciente e meu colega Médico Veterinário. Por isso fui me aprofundar no assunto sobre tosse seca em cães e em colapso de traqueia também. Com muito orgulho digo que fui o primeiro Médico Veterinário brasileiro a implantar um stent traqueal de nitinol em cães no Brasil em 2012. E desde então, venho aprimorando a técnica.

    O colapso de traqueia em cães não tem uma incidência certa, pois muitos casos não são devidamente diagnosticados (os exames não foram os adequados, esqueceu-se de outras doenças respiratórias que causam tosse), os sinais clínicos foram confundidos ou simplesmente a doença não foi nem sequer investigada.

   Hoje já temos tecnologia disponível em Ribeirão Preto, para o diagnóstico preciso do colapso de traqueia em cães, assim como novas opções de tratamento, baseado nos resultados de exames de imagem e sinais clínicos. As novas opções de tratamento incluem desde a cirurgia de implante de stent intraluminal de nitinol até um novo medicamento que promoveu a cura em alguns casos (não foram os suplementos a base de condroitina/ glucosamina).

   Nos próximos posts sobre colapso de traqueia em cães vou falar sobre sinais clínicos, diagnóstico e tratamento;
   
    Toda quarta-feira teremos uma postagem nova.



ECOCARDIOGRAMA OU ECODOPPLERCARDIOGRAMA

O ecocardiograma ou ecodopplercardiograma é o exame mais completo para avaliação do coração. Quando realizado pelo Cardiologista Veterinário bem treinado, é possível fechar o diagnóstico de 99% das cardiopatias. Não há diferença entre os dois termos em Medicina Veterinária, ambos servem para descrever o "ultrassom do coração".

O ecocardiograma ou ecodopplercardiograma é um exame extremamente metódico que exige gigantesco conhecimento de anatomia e fisiologia do coração, assim como fisiopatologia das doenças, portanto DEVE SER realizado por um CARDIOLOGISTA VETERINÁRIO.

O ecocardiograma ou ecodopplercardiograma  deve ser realizado em cães e gatos nas seguintes situações:

- Sempre que houver suspeitas de um problema cardíaco.
- Sempre que um sopro for auscultado.
- Sempre antes do animal ser anestesiado, independente da idade ou tipo de cirurgia.
- Filhotes cujas raças são predispostas a doenças do coração ( Schnauzer, Dobermann, Pastor Alemão, Collie, Setter Irlandês, Bulldog Francês, American Bully, Boston Terrier, Bull Terrier, Terra Nova).
- Acompanhamento de tratamento para doenças das válvulas cardíacas.
- Acompanhamento de pacientes em quimioterapia com doxorrubicina.
- Gatos cujas raças são predispostas ao desenvolvimento de cardiomiopatia hipertrófica (Persa, Maine Coon, Ragdoll, Sphynx).
- Cães diagnosticados com hipotireoidismo.
- Gatos diagnosticados com hipertireoidismo.
- Cães e gatos diagnosticados com insuficiência renal crônica.
- Gatos com perda de peso e apetite sem alteração em exames de sangue.
- Animais acima de 4 anos de idade cujas raças não são predispostas ao desenvolvimento de doenças cardíacas.
- Animais cujos pais possuem/possuíam doenças cardíacas.

Vale ressaltar que quando falo raças predispostas, não quer dizer que somente aquelas raças vão desenvolver a determinada doença. Essas raças mais predispostas são raças em que o gene para o desenvolvimento da doença é mais expressivo e frequente.